- Área: 60 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Ramiro Sosa
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Fabricantes: Abert Alum Aberturas, FV, Grupo SIC Construcciones, Miguel Britto
’Sucucho: nome masculino coloquial depreciativo. Habitação pequena, suja, precária, mal iluminada e mal ventilada’.
A chamamos de Sucucho, e esta é a nossa casa-estúdio. Sucucho é uma forma irônica de nos referirmos a o que buscamos quando a idealizamos. O objetivo inicial saiu justamente disso, desenhar e executar uma casa-sucucho, entendida como um espaço pequeno onde deveria ser resolvida a casa e o espaço de trabalho. A ironia reside no fato de que, se um sucucho remete a algo precário, mal iluminado e mal ventilado, nosso imperativo foi, desde o início, conseguir precisamente o contrário, mas ao mesmo tempo conseguir isso em um espaço reduzido que nos permitisse, pelo próprio tamanho, custeá-lo economicamente nas condições de contexto que necessitávamos e desejávamos: uma casa em um lote de Rosario, descartando nesse sentido a perspectiva de migrar para a área metropolitana, de transição rural-urbana, tão recorrente nos últimos anos como forma de adquirir lotes a um custo acessível.
A partir disso, resolvemos esta casa em um lote urbano de 4x4 metros, transitando uma linha oscilante entre desejo/ideal/recursos concretos. Entre as operações sobre a trama contínua de tijolos em suas diversas condições de opacidade, e operações de subtração sobre a massa volumétrica, existe uma busca orientada a configurar os espaços como uma pausa, um ponto intermediário, na transição entre o material tangível e o material intangível. Os planos de luz são a borda, ou a opacidade da trama de tijolos contínua é a borda, ou uma transição entre uma e outra situações é a borda. A percepção dos espaços à altura dos olhos se relativiza com a divergência de alturas, os contrastes, as oposições.
Os limites interior-exterior se desfazem, as dimensões também. Os valores absolutos se relativizam. Não se trata das dimensões, mas das proporções; não se trata tanto da luz como presença absoluta, como de sua aparição em diversas condições de filtro, dos reflexos e de seus milhares de jogos de sombra. Em termos de programa, mas seguindo a mesma linha, não se trata da qualidade substantiva dos ambientes da casa, mas das ações que possibilitam; não existe o local cozinha, existe a ação de cozinhar; não existe o local escritório, existe a ação de trabalhar; não existe o local de estar, existe a ação de nos sentarmos confortavelmente e nos reunirmos; não existe o local pátio, existe a ação de sair e tomar sol.
Existe nisso uma sempre presente relativização, divergência, entre o que cada espaço é objetivamente - uma superfície reduzida de 4x4 metros que resulta subjetivamente em espaços de vida. Nos interpelamos sobre até que ponto as qualidades de luz, vistas eloquência espacial, otimização de equipamentos e mobiliário, podem enriquecer não só a percepção, mas o uso de espaços que em outras condições subjetivas, mas igualmente objetivas, seriam muito menos desejáveis para permanecer, para viver.
Entre uma e outra reflexão, o sucucho significa para nós uma experimentação sempre presente. Transcorreu e transcorre como uma ida e volta entre o que acreditamos idealmente e o que podemos concretamente, em uma constante interpelação a nossos posicionamentos e ideais frente ao que entendemos que devemos ser e fazer como arquitetos, frente ao papel da casa hoje e frente à interrogação sobre qual é o ideal de cidade contemporânea atual.